20 dicas para pais e cuidadores de crianças com Obesidade Infantil
A Obesidade Infantil é uma doença crónica causada pelo excesso de gordura corporal que se acumula, afetando todos os órgãos e sistemas do corpo. Portugal é o 9º país europeu com maior prevalência de Obesidade Infantil – posição que reforça a importância do envolvimento de toda a comunidade no combate a esta pandemia silenciosa.
Por definição, é obesa a criança cujo peso ultrapassa, pelo menos, 15% do peso adequado à sua idade, género e altura.
Dado o aumento exponencial da Obesidade Infantil em todo o mundo, esta doença é considerada a pandemia silenciosa do século XXI. A Obesidade Infantil tem um significativo impacto social e económico, elevada morbilidade e mortalidade – é atualmente considerada a primeira causa mundial de doença evitável porque reduz significativamente a esperança média de vida, pelas inúmeras comorbilidades associadas (diabetes, dislipidemia, hipertensão arterial, doenças ortopédicas, problemas respiratórios, psicossociais).
O atual estilo de vida da sociedade favorece a Obesidade Infantil: a distribuição da população urbana, o tempo perdido em viagens entre casa e trabalho, as poucas horas de sono, o sedentarismo, o baixo consumo de água, legumes/hortaliças e frutos; o uso excessivo de ecrãs e, muito raramente, distúrbios hormonais e doenças genéticas/herdadas.
A principal causa comportamental responsável pela Obesidade Infantil é o consumo de alimentos processados, prontos a comer. Estes alimentos contêm muitas calorias, pelo elevado teor em gorduras saturadas, açúcares e sal.
Segundo a Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil, mais de 90% das nossas crianças consomem fast food, doces e refrigerantes mais de 4 vezes por semana, menos de 1% bebe água diariamente e apenas 2% come fruta fresca e vegetais.
Está cientificamente comprovado que os hábitos alimentares, de exercício físico e rotina de sono são enraizados na infância e consolidados durante toda a vida. Quando estão desajustados, eles promovem a Obesidade. Os pais em conjunto com os prestadores de cuidados (avós e outros familiares, educadores e professores) devem assumir a sua responsabilidade neste processo, promovendo, com o apoio dos profissionais de saúde, comportamentos saudáveis.
Independentemente da Covid-19, é urgente cuidar da saúde das nossas crianças. As unidades de saúde CUF já retomaram atividade clínica presencialmente, primando pela qualidade dos seus protocolos de proteção e segurança, e existe também a opção de teleconsulta.
Todas as crianças obesas e suas famílias devem, idealmente, ser acompanhadas por Pediatra especializado nesta área, que em equipa multidisciplinar, adequada a cada caso, irá orientar no diagnóstico e tratamento desta doença, de forma personalizada e integrada.
Deixo-vos 20 dicas para pais e cuidadores de crianças com Obesidade Infantil:
- A criança é o reflexo dos seus cuidadores. Reforce a motivação, seja paciente e persistente, acredite na mudança para um estilo de vida mais natural e saudável, por um futuro melhor.
- Jamais utilize alimentos para premiar ou castigar.
- As refeições são momentos prazerosos, de partilha e convívio em família, sem intrusos eletrónicos – televisão ou ecrãs de qualquer espécie.
- Incentive a criança, sempre que possível, a colaborar na elaboração da refeição e no ritual de colocar os utensílios na mesa.
- Disponibilize água e incentive a criança beber, preferencialmente entre e antes das refeições. Iniciem todas as refeições com um copo de água e bebam, pelo menos, 1,5 litro de água por dia (servida em copos grandes), ajudará a regular a hormona da saciedade e a inibir a hormona da fome.
- Planeiem as refeições, fazendo 5 a 6 refeições, distribuídas ao longo do dia, de 3 em 3 horas. Estas devem ser planeadas de forma variada e equilibrada e de acordo com a atividade física da criança obesa. Se a criança estiver muitas horas sem comer ou saltar refeições do período da manhã, o seu metabolismo lento ficará ainda mais desregulado.
- O hábito de tomar o pequeno-almoço é essencial para garantir a capacidade de concentração, aprendizagem e comportamentos saudáveis. Deve ser incentivado e promovido por toda a família. Os pais e cuidadores são o modelo comportamental da criança.
- Dê o exemplo, coma devagar, mastigando bem os alimentos. Façam o jogo da mastigação, contando até 20 vezes antes de engolir. Insalivar é muito importante.
- Tenha sempre em casa legumes/hortaliças e frutos da época – crianças obesas devem ingerir, pelo menos, 3 doses diárias de legumes/hortaliças e frutos da época. Uma cenoura crua, 5 tomate-cereja, são exemplos de snacks saudáveis, dão energia e têm poucas calorias.
- As refeições principais devem começar com um prato de sopa ou salada. Confecione sopas variadas com muita hortaliça não triturada, pouca batata, sem massa e sem arroz.
- Componha a refeição em pratos pequenos, de sobremesa, aumentando a quantidade de alimentos de baixo valor calórico como a alface, o tomate, a cenoura ralada, o pepino, os rabanetes… enfatizando as preferências individuais e uma refeição colorida. Prepare os pratos na cozinha. Ceda à tentação de colocar a panela/tacho na mesa: evita o consumo de grandes quantidades e a repetição do prato principal.
- Evite confecionar alimentos fritos e molhos (manteiga, natas, ou maionese, por exemplo) e privilegie o tempero com ervas aromáticas/especiarias naturais.
- Evite oferecer a fruta após as refeições principais, reserve para o pequeno almoço e lanches.
- Evite sobremesas. O doce vai gerar mais fome e gulodice, desidratando o corpo e aumentando a massa gorda.
- Se a criança, após a refeição, ainda tem apetite, porque o estômago destas crianças está habitualmente mais dilatado, ofereça água de imediato, explique que poderá comer dali a 30 minutos. Ao fim deste período, regra geral, já não terá fome.
- Inicialmente, poderá ser necessário decretar o dia semanal do disparate, um único dia da semana em que poderá ingerir 1 guloseima ou 1 alimento processado/industrializado. Deverá fazê-lo com moderação e promover o seu esquecimento, porque ao longo do tempo o reagendamos e adiamos unicamente para alturas familiares ou sociais especiais. Há medida que reeduca o paladar será, naturalmente, esquecido.
- Incentive toda a família, em conjunto com a criança, a praticar atividade desportiva, regular, programada – de preferência ao ar livre, porque as crianças obesas têm maior risco de défice de vitamina D e assim o corpo poderá repor as suas reservas desta vitamina essencial. A atividade física regular ajuda a fortalecer o corpo a vários níveis e aumenta a autoestima e a capacidade de concentração, favorecendo a perda de peso. Na maioria dos casos, estas crianças, inicialmente, sentem-se cansadas pela excessiva massa gorda corporal: o fundamental é toda a família participar na prática da atividade física diária e incentivar, com persistência, a rotina deste hábito diário para o qual basta meia a 1 hora por dia.
- Procure o gasto de calorias extra: devemos desafiar as nossas crianças a ajudar nas tarefas da casa e sempre que possível, promover jogos em família que incluam algum tipo de atividade física (saltar à corda, apanhada, jogo da macaca, jogo do elástico, corrida, entre outros). As caminhadas devem ser preferidas em relação aos passeios de carro.
- Estabeleça uma rotina de sono adequada e eficaz, evitando a exposição a ecrãs, pelo menos, 1 hora antes do deitar. No pré-sono, incentive atividades relaxantes para o cérebro como contar histórias, ouvir música calma, pintar mandalas, fazer origamis, por exemplo, em função do grupo etário e dos interesses da criança. Os estudos científicos demonstram que uma boa rotina de sono é fundamental para obtermos um peso saudável. No combate à Obesidade Infantil, mesmo que os outros fatores de risco estejam controlados, crianças com horários de sono irregulares/relógios biológicos desacertados têm um metabolismo mais lento e tendem a, facilmente, ganhar peso.
- A Obesidade Infantil é uma pandemia silenciosa, com implicações graves. Procure ajuda de profissionais de saúde especializados, idealmente Pediatra dedicado à área da Obesidade, que os irá orientar e acompanhar no diagnóstico e tratamento desta doença.
Dra.Cláudia Dias da Costa, pediatra na Clínica CUF Almada – mestre em Nutrição Clínica
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