O valor do trabalho, enquanto ato de liberdade de escolha da cada cidadão, como forma de se realizar humana e profissionalmente, tem sido muito desvalorizado e afetado na sua dignidade, sobretudo na última década, em Portugal e no mundo.
Os políticos simplistas, dizem-nos, em jeito de justificação, que a desvalorização do valor do trabalho deve-se à “globalização”, palavra que se transformou num, efetivo, “chavão” político daqueles que, na sua ignorância e má fé, utilizam este conceito para provar que não estava nas mãos deles evitar tudo o que de mau está a degradar a qualidade e a dignidade de vida dos cidadãos, particularmente daqueles que trabalham por conta de outrem e/ ou para o Estado.
De facto há várias globalizações em curso no mundo, e não uma – única e generalista – que nos tentam, diariamente, impingir.
Uma das formas de globalização que nos sacrifica e humilha é, precisamente, aquela que abriu as fronteiras da Europa e, consequentemente, de Portugal, a um mundo de produtores que desenvolvem uma concorrência e um dumping [prática comercial que consiste em vender produtos ou serviços a um preço muito baixo para conquistar um mercado] desleal, introduzindo na Europa produtos fabricados em países sub-desenvolvidos, que aqui beneficiam de isenções ou de baixos níveis de Impostos de Importação. Estes custos de contexto penalizam as nossas atividades produtivas e os nossos níveis de (des)emprego, porque respeitamos e pagamos direitos sociais, custos de proteção ambiental e desníveis cambiários injustos e artificiais que prejudicam a nossa competitividade externa, com evidente prejuízo e sacrifício dos trabalhadores que têm de viver com baixos salários para garantirem uma competitividade que não deveria ser paga por eles.
Dizem-nos, frequentemente, que esta abertura das fronteiras alfandegárias favorece o desenvolvimento social dos países mais pobres mas o que verificamos é que, na realidade, nesses países praticam-se formas de exploração dos que trabalham, similares aos modelos da escravatura, agora “batizada” de Globalização, sem qualquer respeito para com as normas ambientais – determinantes de custos elevados – e se mantém paridades cambiais, artificialmente desvalorizadas, em benefício das grandes empresas que para além de enriquecerem escandalosamente, ainda fogem aos impostos nos países onde têm as sedes e, simultaneamente, escondem as fortunas em “paraísos fiscais” dentro da própria Europa.
Pior ainda é facto de, os trabalhadores desses países que deveriam beneficiar dessa “competitividade artificial” são, na verdade, as segundas vítimas dessa “exploração”, perante o silêncio cúmplice dos Movimentos Sindicais Europeus, da OIT e dos “moralistas” de uma falsa esquerda que cala a sua voz ou por ignorância, ou por miopia, ou por indiferença política.
É essa “globalização” que temos de enfrentar desde logo e principalmente contra políticos “inofensivos” que aceitam tudo o que os outros negoceiam em prejuízo dos países do sul da Europa – cujas economias e o emprego dependem da produção de bens transacionáveis – que estão a ser vítimas dessa insensibilidade e do desinteresse ou do interesse, de alguns, em minimizar as verdadeiras questões, que têm como consequência direta o desemprego que afeta milhares de cidadãos.
Complementarmente,aqueles que deveriam estar na Linha da Frente dessa luta, os empresários, vivem resignados a lamentar-se e a subsistirem numa Economia que os asfixia, com custos de contexto e impostos, tentando governar empresas cheias de contas por cobrar, de clientes em falência e de contas bancárias hipotecadas, sem “balanços” que lhes permitam obter crédito para a modernizar a sua produção!
Como poderá haver desenvolvimento económico neste quadro, com patrões disfarçados de empresários que não conseguem entender-se nas suas Organizações Empresariais representativas, para pressionarem outras soluções?
E que dizer de um Sindicalismo que está ainda “amarrado” ao modelo de lutas do tempo da “Foice e do Martelo” que vai de protesto em protesto, de greve em greve, cedendo e perdendo, até à derrota final!?
Não nos resignamos, uma vez que em Setúbal há empresas bem geridas, que dignificam e respeitam os seus colaboradores ,que lhes dão formação, e obtêm qualidade e melhores condições de comercialização e venda para os seus produtos!
Por isso, no próximo artigo voltarei a este tema para evidenciar um caminho que teremos e queremos seguir, para que se inicie um autêntico processo de desenvolvimento económico e, mais do que isso, de dignificação e valorização do Fator Trabalho nas relações de produção empresariais.
Vieira da Cunha
Secretário Geral (indigitado)
Membro/Fundador do Partido Democrático Republicano
(Em processo de legalização)