Recorrendo ao mais comum repositório linguístico do país, o da sabedoria popular, há um belo ditado que nos diz que “em equipa que ganha não se mexe”.
Tem-se notado cada vez mais uma grande apetência do Governo para a utilização prática deste ditado, se olharmos para a palavra “equipa”, como fórmula. Numa fórmula vencedora não se mexe.
Esta fórmula antiga, com adaptações necessárias por parte do novo utilizador, tem vindo a ser executada em maior quantidade, com mais despudor, o que lhe tem conferido mais protagonismo. Recentemente tivemos algumas amostras da mesma, com especial destaque para a troca do Presidente do Tribunal de Contas.
O primeiro-ministro decidiu afastar Vítor Caldeira, que elaborava relatórios muito maçadores e press releases demasiado dramáticos e, com a aprovação de Marcelo e Rui Rio (aprovação muito vincada do segundo, ao que consta), sugeriu a nomeação de José Tavares que tem um currículo público invejável, como é caso da negociação de PPP´s com a equipa de Sócrates.
Sim, este currículo aos olhos do nosso chefe de Executivo, é positivo. Pois é daí que advém a fórmula vencedora, aplicada com mestria em tempos, por José Sócrates. Afastar quem incomoda e trazer amigos para perto, pelo bem da governação. Foi uma fórmula que conseguiu uma maioria absoluta, ou uma maioria “estável” como se diz atualmente. Por isso não há porque não segui-la, excepto pelo bom funcionamento da democracia e preservação de independência das instituições, mas isso são detalhes.
António Costa sabe, como Sócrates também sabia, que a maior parte das pessoas se está nas tintas para quem é o presidente do Tribunal de Contas, ou a Procuradora-Geral da República ou o seu próprio Chefe de Gabinete. As pessoas querem é saber se os políticos falam em aumento de impostos ou aumento de ordenados. Enquanto Costa falar no último, faz aquilo que bem lhe apetecer, Marcelo aprova, Rui Rio abençoa e o sol nasce novamente no dia seguinte. É assim que mantém o distanciamento social do povo, ao mesmo tempo que o agarra pelo cachaço
Outro membro do Governo que também tem seguido à risca o ditado, é Marta Temido, Ministra da saúde, mas apenas na parte do “não mexe”. A Ministra tem desempenhado com exímia competência a arte de nada fazer enquanto a casa arde.
Portugal teve um aumento de 6,3% na mortalidade face aos últimos 5 anos, e o aumento não está diretamente relacionado com a covid-19. Algo que talvez possa explicar este aumento, são os dados apresentados pelo Conselho Estratégico Nacional da Saúde da CIP, que revelam por exemplo os cerca de menos 17 milhões de exames realizados aos utentes durante este período pandémico.
Tendo o SNS num caos, o Ministério da Saúde decidiu a semana passada fazer mais uma brincadeira aos médicos (e aos doentes), e cortar-lhes o espaço disponível do email profissional, pois como seria de esperar, com tantos apelos a que se evite o atendimento presencial, o meio de comunicação preferencial são os sinais de fumo, nunca a internet.
Todos estes méritos conseguidos pela nossa heroína têm sido recompensados com belíssimas entrevistas dadas a Cristina Ferreira. Contam-se já duas, e numa delas a Ministra, fruto de todo este inesgotável esforço em prol dos utentes, admite mesmo que já pensou desistir. Faltou alguém para incentivar a nossa governante a seguir o seu instinto.
João Conde
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