Pode-se afirmar que a Vila da Baixa da Banheira nasce com a industrialização da Península de Setúbal. As pessoas saíam das suas terras à procura de uma vida melhor. Foi assim a partir dos anos 30, num processo que se manteve até fins dos anos 80 e início dos anos 90. Vinham do Alentejo, do Algarve e das Beiras para procurar uma vida melhor. Vinham trabalhar na Industria da Cortiça, Têxtil, Química, na Metalomecânica e Construção Naval, na Siderurgia, na CP. Enfim, vinham para trabalhar e não para gerir empresas ou herdades.

Esta terra desenvolve-se com a linha do caminho-de-ferro, o que explica facilmente o seu desenho urbano e alguns dos problemas de que ainda hoje sofre. Alguns já poderiam estar resolvidos não fosse a má vontade governativa de PS, PSD e CDS, uma vez que as soluções foram apresentadas em projeto e programa, que foi aprovado, mas cujo o financiamento não chegou na totalidade, ficando muitos problemas por resolver.

Mas concentremo-nos na história. As pessoas vinham para a Baixa da Banheira porque muitas vezes não tinham condições para ir morar para o Barreiro. Aqui, existindo proximidade com as indústrias da região, as casas e os terrenos eram mais baratos para quem fugia da fome e da miséria nas suas terras de origem. Quem não tinha condições para melhor, alugava um anexo num pátio, muitas vezes apenas com 2 divisões e casa de banho partilhada. A vida era dura e a população coletivamente organizava-se para melhor suplantar as adversidades. Eram tempos de ditadura e as dificuldades económicas, a exploração nas fábricas e a opressão fascista talharam o espirito Banheirense. Um espirito de luta, resistência e de esperança.

Foi esse espirito que fez nascer as muitas coletividades desta terra que por longos períodos foram um importante apoio social, garantindo desporto, educação, cultura e lazer, bem como a formação de uma escola de cidadania e democracia.

Na década de 60, e até na década de 70, a Baixa da Banheira era muito diferente do que é hoje. Havia muito por fazer. Estradas, infraestruturas de abastecimento publico, construção de equipamentos. Nesse período cria-se o Bairro Fundo de Fomento destinado a realojar as famílias que viviam em condições insalubres. A Baixa da Banheira cresceu muito, sem que se criassem as condições devidas para a população.

Ainda antes da democracia, só com os protestos da população foram possíveis algumas melhorias, mas não podemos esquecer que a GNR que nos reprimia chegou primeiro do que saneamento, já que até aí os dejetos corriam pelo chão. Com o advento da democracia, bem cara a muitos Banheirenses, que com o seu esforço militante, com a sua resistência à repressão da ditadura fascista, com as suas lutas e sacrifícios, a ajudaram a construir, e com a instauração do Poder Local Democrático, começam realmente a resolver-se muitos dos problemas herdados, e muito se fez em pouco tempo.

No final dos anos 70 e princípio dos anos 80, e com a descolonização mal feita e mal gerida por PS e PSD, o Vale da Amoreira recebe muitos refugiados. As casas inicialmente construídas para trabalhadores são agora para aqueles que fugiam da situação nas ex-Colónias. Mais uma vez a Baixa da Banheira recebe dezenas de milhares de pessoas em busca de uma vida melhor. Um processo mal tratado e mal feito que se não fossem os autarcas da altura teria resultado como os que se viram, e ainda vêm, noutros locais.

Pois bem, nesta terra de esperança, procurada para construir uma vida melhor por trabalhadores e refugiados, a vida ia conseguindo suplantar as dificuldades, até que PS, PSD e CDS resolvem apoiar a desindustrialização da Península de Setúbal, o que naturalmente gerou o encerramento e deslocalização de empresas, muito desemprego, fome e miséria, que aqui na Vila da Baixa da Banheira, terra de trabalho e de trabalhadores agora abruptamente ampliada no Vale da Amoreira, muito sentiram.

O processo de desindustrialização não ocorreu só na região de Setúbal ou em Portugal. Faz parte de um processo de integração europeia e de acumulação de capital. Em algumas regiões da Europa a percentagem de perda de população no final dos anos 80 e início dos anos 90 rondou os 50% e as taxas de desemprego muito perto dos 40%. Uma desgraça!!!!
Hoje, no discurso político da oposição local, assistimos aos mesmos que apoiaram uma descolonização apressada e sem condições e aos mesmos que apoiaram a desindustrialização e as suas consequências, como o desemprego e a miséria, apontarem aos autarcas da CDU as consequências dos erros que eles mesmo cometeram. Os mesmos que apoiaram os PEC´s, a Troika, a desindustrialização, os ataques aos pequenos e médios empresários e empresas e os mesmos que apoiaram as politicas que levaram ao desemprego e à emigração de jovens, acusam as autarquias de CDU de inércia e incompetência ao mesmo tempo que batem palmas a estas politicas de retrocesso. Os mesmos que votaram contra a construção do novo centro de saúde por 18 vezes, os mesmos que boicotaram a abertura do posto de Segurança Social, os mesmos que apoiaram os Governos que abandonaram as habitações e os espaços públicos do Vale da Amoreira, que não cumpriram com dezenas de compromissos assumidos para a melhoria das condições de vida nesta vila, que deixaram a Escola Secundária da Baixa da Banheira sem Pavilhão, ou que não permitiram a construção do Pavilhão Multiusos da Baixa da Banheira, que não fizeram a esquadra da PSP, aqueles que não quiseram que o Passe Social incluísse a Vila da Baixa da Banheira, ou que fecharam o Posto de Correios da Baixa da Serra. Em súmula, aqueles que não respeitaram os nossos direitos.
A esses dizemos o que sempre dissemos: estamos cá e estaremos sempre cá para lutar por esta Vila, e pelos direitos de quem escolheu esta Terra como a sua Terra, por quem aqui vive, por quem aqui trabalha. Nós estamos cá, muitos não poderão dizer o mesmo.

 

Nuno Miguel Fialho Cavaco

Militante do Partido Comunista Português

Presidente da Junta de Freguesia da União de Freguesias da Baixa da Banheira e Vale da Amoreira