Os anos passam e a história repete-se. Continuam as notícias sobre a falta de serviços, estruturas e profissionais de saúde em certas zonas do Alentejo.
Desta vez a RTP lançou uma reportagem, que saiu no passado dia 18 de junho, onde se expunha o facto de os doentes em Grândola terem carências que precisam de soluções. Neste concelho, com bastante presença de população idosa, não há um hospital nem serviços de urgências. Existe um centro de saúde que cessa funções pelas 20h, ou então, privados. O hospital mais próximo e para onde as pessoas são comummente encaminhadas, fica a pelo menos 20 minutos de carro – o Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém e que se encontra lotado. Estamos no verão e não há melhor altura para tal questão se verificar. As zonas costeiras recebem turistas ao longo de muitos quilómetros, – de Troia a Vila Nova de Milfontes – e estes também têm direito a ter apoios hospitalares, se assim o precisarem.
Ora ao contrário do que a esquerda tenta que se pense, o CDS-PP não é contra o SNS. Apesar do partido não ter concordado com um projeto lei de esquerda que foi apresentado em Assembleia, tinha uma contraproposta a apresentar para o mesmo SNS, porque vê nele uma enorme mais valia.
Compete ao Estado apresentar ofertas e alternativas, para melhor servir as pessoas. Todos os cidadãos têm direito a um serviço público de saúde, de qualidade, seja ele fornecido em edifícios e entidades públicas ou privadas. Nos atuais moldes de atuação do governo e sendo o caso de Grândola um exemplo, uma pessoa que não quer pagar a privados, quase que se vê obrigada a isso, porque a sua terra não responde às suas necessidades de saúde. Colocar as pessoas nessa situação, coloca também em perigo quem não tem dinheiro para os pagar e deixa pronto o pedido de que essas idas sejam subsidiadas.
Os grandes centros urbanos e as cidades desenvolvidas não sabem o que é viver sem umas urgências por perto. Um filho que parte a cabeça, um pai que tem um acidente de carro, um trabalhador que se aleija, uma grávida que vai dar à luz de repente. Todos estes e outros casos rapidamente têm assistência, mas em certas zonas do Alentejo não é assim e Grândola é um bom exemplo.
O Hospital do Litoral Alentejano, em funções desde 2005, dá resposta a cerca de 93 mil pessoas, dispersas por cinco concelhos (Santiago do Cacém, Sines, Grândola, Alcácer do Sal e Odemira). A este número, acrescenta-se a tal população flutuante, como os turistas ou os trabalhadores a curto prazo, por exemplo, do setor industrial. Não parecer ser pouca gente para um só local.
Não se justifica que os quase 15 mil utentes que estão inscritos no Centro de Saúde de Grândola fiquem sem apoio pelas oito da noite, rezando para que a partir dessa hora ninguém sofra de um ataque cardíaco, de um AVC, do que seja. Mas mesmo que tal incidente ocorra durante o dia, o INEM e os bombeiros entram em ação, porque como já referido, as urgências mais próximas ficam em Santiago do Cacém. Se o hospital estiver lotado, como de costume, esperam- se mais umas horas e reza-se novamente para que não sejam horas a mais. Também não se justifica, por muitas que sejam as justificações, que haja mães a terem os seus filhos no caminho até Setúbal ou Beja, coisa que acontece, – estando os bebés expostos a mais perigos – porque o principal e único hospital da zona não tem uma maternidade. Pergunto que segurança devem as mães ter para formar família por estas bandas.

As pessoas têm de se sentir seguras fora dos grandes centros urbanos e o país precisa de fixação interior, como também ano após ano vamos ouvindo. Para a JP, estou certa que a saúde não deve ser posta em segundo plano, nem encostada às boxes. Sem saúde não há qualidade de vida, não há dinheiro que importe nem trabalho que sustente uma casa. Assim, é hora de começarmos a ouvir nas notícias que há investimento público onde ele mais falta faz e que as estruturas funcionam de forma ágil e eficaz.
É imperativo descentralizar os cuidados de saúde e investir nos mesmos, nas infraestruturas hospitalares, em pessoal médico, em enfermeiros/as. Um atendimento permanente nesta zona fazia sentido. O Alentejo tem pessoas que precisam de cuidados e é cansativo a história ser sempre a mesma.

Marta Raimundo
Secretária-adjunta da Juventude Popular Distrital de Setúbal