A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica que resulta da incapacidade do coração em bombear o sangue de modo a satisfazer as necessidades do organismo. Este compromisso da função de bomba pode resultar de problemas ao nível das artérias coronárias, músculo cardíaco, aparelhos valvulares, entre outros. Assim sendo, a insuficiência cardíaca não deve ser vista como uma só doença; ela pode ser a manifestação de várias doenças.

É um problema de saúde muito frequente, atingindo cerca de 10% da população mundial com mais de 60 anos. Quando não diagnosticada e tratada atempadamente associa-se a uma diminuição da qualidade de vida, hospitalizações frequentes e mortalidade elevada (50% dos doentes morre dentro de 5 anos após o diagnóstico). 

Quais as causas de Insuficiência Cardíaca?

A principal causa é a doença aterosclerótica das artérias coronárias, que se pode manifestar subitamente com um ataque cardíaco, e está intimamente relacionada com a obesidade, hipertensão, diabetes, colesterol elevado, tabagismo e predisposição familiar. Outras causas são as doenças das válvulas cardíacas, as arritmias, as doenças primárias do músculo cardíaco e do pericárdio (membrana que envolve o coração).

A disfunção do músculo cardíaco pode também decorrer da exposição a agentes tóxicos, tais como as bebidas alcoólicas e alguns tratamentos de quimioterapia.

Quais os sintomas mais frequentes?

Os sintomas típicos são o cansaço e a sensação de falta de ar, inicialmente quando realiza grandes esforços, ocorrendo posteriormente com esforços progressivamente menores ou mesmo em repouso. Pode também sentir dificuldade em respirar quando está deitado, melhorando quando eleva a cabeça. Pode ainda notar aumento do volume dos membros inferiores ou do abdómen, devido à retenção de líquidos. Outros sintomas tais como a dor no peito, as palpitações ou a perda de conhecimento, podem sugerir qual a causa subjacente.

Como se diagnostica a Insuficiência Cardíaca?

O diagnóstico inicial é sobretudo clínico, ou seja, após avaliar os seus sintomas e o observar, o médico pode suspeitar que tenha insuficiência cardíaca e requisitar exames para confirmar esse diagnóstico e para identificar a causa subjacente. Esses exames incluem habitualmente um estudo laboratorial completo e a realização de radiografia de tórax, eletrocardiograma e ecocardiograma. Pode ser necessário a realização de exames mais específicos tais como a ressonância magnética cardíaca ou o cateterismo cardíaco. 

Como se trata a Insuficiência Cardíaca?

O tratamento assenta em três pontos: tratar a causa subjacente (podendo ser preciso cirurgia cardíaca), melhorar os sintomas e reduzir a mortalidade. Existem medicamentos que demonstraram eficácia neste contexto e que poderão ser prescritos pelo médico. Em alguns casos pode ser necessário implantar um dispositivo semelhante a um pacemaker, que ajuda a melhorar a função do coração ou a prevenir arritmias graves. Nos doentes mais graves poderá haver indicação para transplante cardíaco.

O doente vai ter um papel fundamental, devendo controlar os seus fatores de risco e cumprir rigorosamente a medicação prescrita. Pode-lhe ser dada a indicação para diminuir a ingestão de sal e de líquidos, assim como para monitorizar o seu peso diário e alteração dos sintomas. 

Como prevenir?

O aparecimento da insuficiência cardíaca pode ser prevenido ou atrasado através da adoção de um estilo de vida saudável nomeadamente:

  • Fazer um alimentação equilibrada, com maior consumo de vegetais e redução da ingestão de sal, gorduras e açúcares;
  • Não fumar e reduzir a ingestão de álcool;
  • Realizar exercício físico de forma regular;
  • Manter o peso corporal adequado.

Se tiver fatores de risco como a hipertensão ou a diabetes, o tratamento eficaz dos mesmos é fundamental.

Nos dias que correm somos diariamente confrontados com novos dados sobre a pandemia COVID-19, que veio sem dúvida alterar os nossos hábitos.  Não podemos porém esquecer que as doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em todo o Mundo, pelo que não devemos atrasar o seu diagnóstico e tratamento. 

Nos últimos meses observou-se uma reorganização no modo de trabalho da maioria das instituições de saúde, de forma a garantir que os cuidados prestados aos utentes não fosse descurado, sem contudo esquecer as questões de segurança. Não adie a sua saúde! Manter o acompanhamento regular pela sua equipa de saúde é fundamental.

Inês Cruz, Cardiologista na Clínica CUF Almada