Afinal os passeios da Avenida Alfredo da Silva sempre ficam mais bonitos do que estavam! Se alguém, por ventura, pensava que o investimento era inútil (porque há quem pense assim!!), saiu frustrado, porque está a ser esteticamente eficaz, pelo menos ao nível do chão.
Outros há que, reconhecendo algum mérito na obra, a colocam em causa por considerarem que existem outros problemas prioritários a exigirem uma resposta mais urgente. Mesmo que não digam quais, estão no seu direito, pois os cidadãos não são obrigados a ter soluções para tudo. O mesmo não se poderá aplicar a dirigentes políticos locais que não apresentam alternativas para o investimento, pois a sua obrigação é mostrar caminhos diferentes para que os cidadãos optem, quando forem chamados a pronunciar-se em eleições ou noutras formas de participação. A democracia faz-se de escolhas entre opções diferentes. Se não existirem opções diferentes, então não existe por onde optar em política.
Mas existem aqueles que vêem sobretudo o eleitoralismo da obra, por ser feita nas vésperas das eleições e tratar-se de uma operação de embelezamento. Tratar-se-ia de uma medida para “encher o olho” e enganar os incautos.
Arriscam-se os cidadãos do Barreiro, se não estiverem com espírito crítico, e não exigirem respostas concretas para os problemas, a optarem nestas eleições autárquicas entre candidatos que não conhecem minimamente, como pessoas, e nem chegarem a saber que ideias têm para o desenvolvimento da cidade. Por isso, torna-se urgente perguntar, quais são as coisas diferentes que os candidatos se propõem fazer para que a opção seja consciente.
Mas, voltemos aos passeios da Avenida Alfredo da Silva. Para o BE, que represento nestas eleições, as perguntas que temos de fazer para darmos respostas adequadas são, entre outras, as seguintes: Esta remodelação integra-se numa obra mais vasta de revitalização do centro da cidade? O que vai mudar no centro da cidade depois das obras concluídas? Existem opções para retirar o número elevado de veículos que circulam e estacionam no centro, desfigurando e degradando a cidade e provocando problemas de saúde nas pessoas? Vão mudar os circuitos de circulação dos veículos? Vai haver mais espaço para os peões e para animação de rua? Haverá mais árvores e mais verde? Prevêem-se esplanadas? Os cidadãos foram ouvidos sobre estas eventuais questões?
Desconhecemos qualquer projecto de revitalização, do tipo “Centro Comercial Aberto”, ou apenas a pedonalização de área importante no centro da cidade, que nos desse a esperança de que são bem gastas as centenas de milhares de euros que nos custam estas obras. Não existindo esta perspectiva mais geral de revitalização da cidade, lamentamos que a forma de gastar este dinheiro não seja adequada. Também não deixamos de criticar por isso a Câmara e dizer ao Partido Socialista, que a dirige, que se pensa que é com mudança do “soalho” que vai arrastar mais barreirenses para as suas posições, está enganado. A herança de cidadania activa dos barreirenses, apesar de muito abalada por uma forte anestesia, nas últimas décadas, reaparecerá e irá rejeitar cada vez mais esta menorização que não se adequa à vivência de participação democrática que entre nós fez história.
Continuamos sem ver da parte das outras forças políticas uma opção clara para um Barreiro diferente. E o que aí vem, ou pelo menos está anunciado, é a construção de mais mega-urbanizações que esvaziarão o actual centro da cidade, e agravarão a desumanização que já está presente no dia a dia.
O grande problema da nossa política local é que ela se coloca só ao nível do “soalho”. Infelizmente fazem-se as estradas e os passeios e as urbanizações como se fossem coisas que existem independentemente das pessoas.
As pessoas são consideradas apenas para arregimentar em época eleitoral, ou para adquirir o betão que se vai erguendo a esmo, destruindo o espaço vital da cidade. Enquanto algumas forças políticas persistirem em medir “a obra” por quilómetros de alcatrão e metros de calçada, continuaremos num mundo de política rasteira que não se eleva ao nível das pessoas. Não podem contar comigo nem com o BE para manter o debate político neste patamar. Faremos todos os esforços ao nosso alcance para o colocar em torno das ideias para humanizar o Barreiro, e transformá-lo numa cidade com futuro.
*Candidato do BE à CMB