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  Provocar a crise -



   
 


Estamos em crise, o crescimento económico é muito fraco, está estagnado. O governo apresenta um orçamento de Estado onde corta na despesa pública, nos direitos aos profissionais da administração pública e insiste, de forma completamente absurda, na moderação/redução do investimento público.

Trocando por miúdos, não incentiva a modernização da economia e não fomenta ganhos de produtividade/competitividade. Aposta no já gasto modelo de desenvolvimento dos baixos salários e da desqualificação do trabalho. Pode-se dizer que este orçamento alimenta mais a bola de neve da estagnação económica. A bola rola e faz crescer o desemprego e o número de pobres (já somos apontados como o país com mais pobres na Europa) e consequentemente a degradação do sistema, que está moribundo.

Há que inverter o processo, há que suster a bola de neve. Já se sabe que em época de crise, os privados não investem porque o clima de confiança dos agentes económicos não ajuda. Já se sabe que o investimento gera directa e indirectamente emprego, e o emprego cria riqueza. Só nos falta saber que em época de crise “alguém” tem de investir e se os privados não o fazem, só o Estado o pode fazer. Cabe ao Estado investir (e não criar despesa, o que é diferente) só assim é possível parar a bola de neve.

O investimento público é essencial e deve ser canalizado para a qualificação das pessoas e para a criação de centros de excelência, centros de tecnologias de ponta criados para serem pólos atractivos de investimento (o investimento gera investimento) e de apoio às empresas e à própria administração. A riqueza do país deve ser utilizada para gerar riqueza e esta deve ser melhor distribuída porque só assim se cria desenvolvimento, para isso o modelo de desenvolvimento tem de forçosamente assentar em trabalho qualificado e salários mais elevados.

Devemos ser ousados, não baixar os braços. Os orçamentos passam e os problemas ficam. Não é preciso inventar, basta seguir as pisadas de quem está à nossa frente, de quem nunca descurou o Estado Providência, de quem nunca deixou de ser competitivo, e de quem aposta nas pessoas, no trabalho qualificado. Existem inúmeros países com estes modelos, basta olhar para eles e ver o que se fez. Nós somos capazes, mas cada um tem de fazer o seu papel.

Este orçamento não serve, está gasto, é mais do mesmo. Que tal se tentarmos mostrar a quem nos governa que existem caminhos alternativos. Está na nossa mão.

*Militante do Partido Comunista Português


 
Nuno Cavaco
2005-10-19
   

  

  
   
 

 

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