No fim das contas feitas, verificamos que os resultados eleitorais no nosso concelho, podem ter várias leituras. É normal que cada força política faça a sua leitura das intenções de voto dos eleitores, ao abrigo da sua própria maneira de interpretar o mundo.
Atrevo-me a tirar algumas conclusões que me parecem claras e objectivas pois são alicerçadas em números inequívocos. Não pode haver dúvidas que foi a CDU a vencedora das eleições, pois obteve mais votos que qualquer outro partido e conquistou a presidência da Câmara. Além disso conseguiu a presidência de sete das oito freguesias do concelho. Não me parece haver contestação quanto à intenção de votar à esquerda da esmagadora maioria dos eleitores, pois os votos reunidos da direita não vão além duns doze por cento. Todos os outros oitenta e muitos por cento dos votos expressos representam uma clara intenção de votar à esquerda.
É de realçar também o resultado do Bloco de Esquerda que teve aumentos de número de votos de 167% para a Câmara Municipal e de 142% para a Assembleia Municipal, tendo eleito dois representantes para este último órgão. Conseguiu ainda eleger para cinco das Assembleias de Freguesia. Estes resultados permitem que o BE passe duma força sem expressão autárquica para um total de sete eleitos, o que modifica a correlação de forças políticas dentro do nosso concelho ao nível autárquico.
O PS ao perder a presidência da Câmara e de duas Juntas de Freguesia aparece como o partido perdedor das eleições apesar do seu segundo lugar. O PSD mantém o terceiro lugar de partido mais votado, com um aumento de 7% do número de votos para a Câmara e uma diminuição de 2% nos votos para a Assembleia Municipal.
Dir-se-ia que esta disposição de forças daria uma fácil arrumação de lugares nos órgãos para garantir políticas estáveis, provavelmente alinhadas à esquerda. Com alguma perplexidade verificamos que nas Assembleias de Freguesia onde a CDU não tinha maioria por si só, fez maioria com o PSD, introduzindo nos executivos um elemento deste partido. Porque fez a CDU esta aliança sistemática com o PSD? Certamente não necessitaria de abrir as portas dos executivos das freguesias à direita, pois se persistisse em políticas de esquerda contaria sempre com o apoio do BE, que não faz política de terra queimada. Naturalmente estas aberturas à direita são resultado de acordos mais vastos envolvendo também a Câmara Municipal, onde o vereador do PSD faz de charneira entre os dois maiores partidos. Não posso, nem quero especular sobre o tipo de acordos que Bruno Vitorino arrancou à CDU, para além dos óbvios lugarezinhos, mas não posso deixar de questionar o fundo desta aliança com cunho estratégico. E a pergunta óbvia é: O PSD está disposto a deixar passar políticas de esquerda, abdicando da sua identidade, ou a CDU prescinde de afrontar a política e os interesses da direita no concelho do Barreiro?
Pode nem ser uma coisa nem outra. Pode até nem existir nenhum acordo e foi apenas coincidência a entrada de membros do PSD nos executivos das freguesias. Só o saberemos se os dois partidos intervenientes usarem de transparência e divulgarem se existe ou não acordo, e quais os seus termos, ou então, teremos de esperar calmamente pelo decorrer dos mandatos autárquicos para através dos efeitos percebermos o que realmente se passou.
Aquilo que desejamos, sinceramente, é que não se frustrem os anseios dos quase 90% de eleitores de esquerda do nosso concelho e que, finalmente, possamos contar com transparência na vida política local.
*Responsável pela Concelhia do Barreiro do BE mariodurval@sapo.pt
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