Assistimos todos os dias a uma peça de teatro em que não existem espectadores. Falo da peça “Presidenciais”. O país inteiro, ou a grande maioria dos portugueses, discorda da actuação do governo, mas apoia quem o louva. Quantas vezes Cavaco Silva afirmou que o caminho seguido por Sócrates é o correcto? Quantos alertas fez Manuel Alegre sobre as políticas que tanto contestou do PSD e aplaude ao PS? Quantos caminhos alternativos foram apresentados por Mário Soares? As respostas a estas questões estão à vista de todos. Realmente a incoerência das acções recentes destes três candidatos é tão grande que não é necessário recorrer à História para afirmar que qualquer um deles não serve para Presidente da República.
Mas voltemos ao início, mais concretamente à parte do não existem espectadores. A sabedoria popular ensina-nos o caminho, é tão fácil, que basta referir que quem mente uma vez mente sempre.
Hoje vemos Mário Soares a condenar as privatizações (parece que não teve nada a haver com isto, faças o que eu digo não faças o que eu faço), Cavaco Silva a receber louvor de trabalhadores (700 da U.G.T., parece que afinal sempre é verdade, quanto mais me bates mais gosto de ti) e Manuel Alegre diz nim ao orçamento de estado (este senhor anda perdido, candeia que vai à frente ilumina duas vezes).
No entanto e não obstante estas incoerências, muitos portugueses continuam a acreditar nas mesmas pessoas que os desapontaram. Muitos, porque estes senhores lhes foram apresentados como a salvação, como os detentores da razão, outros porque a desinformação reinante não lhe permite o pensamento livre.
A verdade tem três lados, a minha, a sua e a verdade, e de certo, sem qualquer dúvida, que nenhum candidato detém a exclusividade deste tesouro, mas as palavras destes três homens comprometidos com a situação do país, não são verdadeiras, são eleitoralistas, são de ocasião. São eles efectivamente os responsáveis pelos números do desemprego, pela fraca produtividade, pelo baixo poder de compra dos portugueses. São ainda eles quem alimenta a desinformação, a desigualdade de direitos e deveres entre os portugueses e a alienação de serviços públicos, que estão consagrados na Constituição Portuguesa. Portugal é o único país da Europa em que se aprovam leis inconstitucionais sem problemas rigorosamente nenhuns.
Mas existem alternativas, outro rumo é possível, Portugal tem futuro, mas para isso há que responsabilizar as pessoas, há que as ouvir e tentar que direitos e deveres sejam iguais para todos. Direitos fundamentais e de caracter universal como a Saúde, o Emprego, a Habitação, o Ensino, a Cultura e o Desporto devem pertencer às obrigações do Estado para com os cidadãos.
Obrigações como o pagamento de impostos (na sua quota justa) devem ser suportadas por todos e o combate à fuga ao fisco não pode cair única e exclusivamente sobre quem já os paga.
As incoerências políticas de quem defende uma coisa num determinado tempo e passados alguns dias defende outra tem de ser punida. Estes três senhores são incoerentes, têm responsabilidades elevadas sobre o estado de Portugal. O Portugal de hoje é fruto do que eles semearam, não os deixemos fazer a colheita.
O voto em qualquer um dos três é uma aposta na continuação do modelo de desenvolvimento dos baixos salários, na subserviência ao imperialismo dos Estados Unidos da América e no “roubo” de direitos conquistados a milhões de portugueses. Por uma vez tentemos mudar o sentido de voto, por uma vez apostemos na defesa dos portugueses, é fácil, basta não votar e apoiar quem tanto nos prejudicou e prejudica.
*Militante do PCP