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  E tudo o que a “crise” levou -



   
 


Alguns estudiosos, outros curiosos e muitos outros beneficiários ou privilegiados, consideram que a “crise” que vivemos é passageira e fruto do sistema neoliberal. À parte de palavras que a maioria de nós não conhece o verdadeiro significado, definem a crise do neoliberalismo como um episódio do capitalismo em que alguns gananciosos se deixaram levar por maus institutos, sob o olhar passivo da maior parte dos governos do mundo. Negam a realidade. Esta crise segue-se a muitas outras e é, mais uma vez, o resultado de um sistema injusto, assente num modelo de desenvolvimento que gera a destruição dos recursos naturais e que leva ao empobrecimento e à dependência da maioria dos seres humanos, ao mesmo tempo que nos afasta das decisões ditas “democráticas”, porque tem como objectivo a concentração de riqueza e poder nas mãos de muito poucos.

Estes estudiosos, curiosos e outros beneficiários, que defendiam um Estado Menor para se conseguir um Estado Melhor, e que acusavam quem defendia um Estado Forte e uma economia baseada na produção e no aparelho produtivo, de ter uma cassete enfiada na cabeça, fazem hoje tábua rasa, dando o dito por não dito e defendem a intervenção do Estado na Economia. Esta mudança de opinião, sem grandes justificações e com grande tranquilidade, surge em boa hora. Mas porquê?

Confundem as pessoas defendendo o que antes combatiam. Por exemplo, quem considerava as “nacionalizações” como um absurdo político, como coisa do passado, defende-as agora, retirando-lhe carga política e colocando-as ao seu dispor, ao serviço dos seus interesses. Estes processos que deveriam servir para colocar ao serviço do povo estes recursos, são agora utilizados para se fazer transfusões de capital, do capital dos estados, do capital de todos nós, para as mãos dos mesmos gananciosos. Porquê?

Para enganar, para continuarem estudiosos, curiosos e beneficiários do mesmo sistema, que de “neo” (novo) nada tem, e que está a morrer de velhice, apesar de nova roupagem e umas quantas operações plásticas.

Nacionalizar para estes senhores é salvar os ricos e poderosos com o dinheiro do povo, privatizando os lucros e nacionalizando os prejuízos, à conta da destruição do aparelho produtivo, da retirada de direitos aos trabalhadores, à custa de baixos salários e reformas de miséria.

Com a “crise”, que em Portugal, já conta com muitos anos, apesar do paraíso descrito pelo governo e pelo partido que o apoia, e que levou a inúmeros sacrifícios do nosso povo sem resultado visível, antes pelo contrário, urge lutar por melhores condições de vida, pelo progresso e pelo desenvolvimento e denunciar esta política, velha e bafienta de direita, que parecendo que muda alguma coisa não muda coisa nenhuma.

A solução passa pelo que mais de 200 000 manifestantes exigiram em Lisboa na passada Sexta-feira. Um Novo Rumo, uma nova política, uma politica para todos e que defenda o aparelho produtivo e os trabalhadores, que se traduza por uma transformação para melhor da nossa sociedade, para uma sociedade mais justa e fraterna. Objectivamente a criação de mais emprego, o combate à precariedade, a melhoria dos salários e a defesa dos direitos de todos, a erradicação da pobreza e injustiça social, passam por uma política de esquerda.

Esperemos que depois das “crises” terem colocado a nu as contradições e as injustiças deste sistema, que se abra um Novo Rumo, tão necessário à melhoria das condições de vida, e que esta “crise das crises” leve também as resistências à verdadeira mudança, já que a vergonha de muitos também foi levada!

*Membro da DORS do PCP


 
Nuno Cavaco
2009-03-19
   

  

  
   
 

 

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