Comemoramos o 35º Aniversário da Revolução dos Cravos, data maior da História de Portugal. Depois de 48 anos de Regime Fascista, implantado com o golpe de 28 de Maio de 1926 e derrubado a 24 de Abril de 1974, o povo português pôs fim à ditadura que o oprimia.
Durante estes 48 anos todos os partidos políticos, movimentos ou qualquer tipo de associações que reivindicassem ou lutassem contra o regime, foram proibidos e ilegalizados e os seus membros perseguidos. O PCP, fundando a 6 de Março de 1921, foi o único partido político que não abdicou do seu objectivo: a defesa do povo português e de um regime democrático. Os duros anos de ditadura levaram à reorganização do PCP e ao trabalho na clandestinidade. Muitos militantes comunistas foram presos, outros foram assassinados e muitos outros torturados, mas sempre este partido lutou por o objectivo traçado.
Mas se estes 48 anos foram duros para os comunistas e para outros democratas, para outros foram anos de oiro, que vivendo à babuja do Regime Fascista que oprimia e explorava os portugueses, conseguiram fazer fortuna. Ainda hoje alguns saudosistas lembram esses anos com um sorriso cínico e amarelo.
A Revolução dos Cravos culminou todo o processo de luta contra os exploradores e opressores do povo português. Não foi apenas um evento de um dia e nem foi fruto de uma “Evolução” do Regime. O 25 de Abril nasce da resistência e da luta de muitos, não foi obra do acaso e nem foi o caminho mais fácil.
Hoje, passados 35 anos, a História não pode ser reescrita e deve ser “contada” valorizando os que realmente sofreram na pele lutando sempre, independentemente das consequências. Lembro aqui, e no curto espaço que me cedem, as greves dos trabalhadores, as lutas dos estudantes e a coragem dos que afrontaram em campo aberto os ditadores, homens como o General Humberto Delgado que pagaram bem caro a “ousadia”.
Hoje em plenas comemorações da Revolução de Abril, reconhecemos que a consagração de direitos fundamentais inscritos na Constituição da República Portuguesa, como o direito ao trabalho, o direito à saúde, o direito ao ensino, o direito à associação, à liberdade sindical, à segurança social, entre outros, só foram possíveis porque houve luta, porque os direitos foram conquistados.
Hoje passados 35 anos do início destas conquistas devemos valorizar o papel das lutas na Revolução e em especial o papel das lutas de muitas gerações de trabalhadores portugueses. Comemorar o 35º aniversário do 1º de Maio, em Liberdade e Democracia, é também comemorar Abril e lembrar que depois de 123 anos da repressão brutal sobre os trabalhadores de Chicago por estes reivindicarem a jornada de trabalho de 8 horas em 1886, no parlamento europeu discutiu-se o alargamento da jornada de trabalho para as 65 horas. Esta proposta significaria um retrocesso civilizacional de mais de um século! Com a luta dos trabalhadores, a proposta foi recusada. Mas não nos enganemos, a proximidade às eleições europeias também determinou o sentido da votação e é por isso, que a luta deve continuar e deve ser levada ao voto, alterando a correlação de forças no parlamento europeu no sentido da defesa dos trabalhadores e dos povos. Neste 1º de Maio não nos podemos esquecer disto e devemos levantar bem alto a bandeira da defesa dos interesses dos trabalhadores e dos povos.
Hoje, num quadro de crise do sistema capitalista e na presença de uma brutal ofensiva contra os trabalhadores, reconhecemos que muito do que se ambicionava justamente não está realizado e que apesar de tudo o que passámos enquanto povo, ainda se atropela os princípios da Constituição da República Portuguesa. O aumento do número de desempregados, a desregulamentação e a precarização do trabalho, o ataque às funções sociais do Estado, a redução dos salários e a perda de direitos colectivos e individuais devem merecer de todos os democratas uma reposta à altura. É pois missão de todos os democratas comemorar Abril com convicção, e afirmar que a defesa das conquistas e a defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo português é, não só o nosso objectivo, como a melhor forma de homenagear todos aqueles que lutaram por nós, por um Portugal Democrático.
* Membro da DORS do PCP