O conservadorismo e os partidos anti-establishment cosméticos, da extrema-direita, têm vindo a crescer em diversos pontos do mundo. Precisamos de uma séria autorreflexão antes que a metástase aconteça.

Foi-se o tempo que a extrema-direita ainda se situava no campo do populismo controlado. As eleições brasileiras elevaram o populismo a um radicalismo ainda mais agressivo, dando forma a uma extrema-direita verdadeiramente ditadora em pleno séc. XXI.

Não é raro ver políticos e formadores de opinião a passar a culpa para o advento das redes sociais, para o escrutínio e sensacionalismo dos média, ou “falta de cultura do povo”. Não é possível descartar totalmente a tese, mas parece quererem esconder a parte da culpa que têm no cartório.

Sempre que é percetível um caso de despotismo, corrupção, sempre que é evidenciado que nada mudou no modus operandi do poder, sempre que os políticos se tornam príncipes (de Maquiavel), as vozes de descontentamento causam ruídos ensurdecedores e a classe política perde a autoridade.

Felizmente vivemos no oásis de um mundo conturbado, os portugueses ainda vêm na abstenção o voto de protesto mais forte. Sem dúvida, um grande povo nunca iria cair nas armadilhas que lembrassem o Estado Novo, mas a verdade é que o “surf” anda na moda, e não sabemos até que ponto a onda da extrema-direita não poderá ser sedutora, principalmente quando muitos jovens mais a direita começam a piscar-lhe o olho.

Hoje mais do que nunca, o mundo exige-nos constante update. Então, por que será que temos tanta passividade em aceitar que a vida partidária raramente o faça?

A responsabilidade de inovar recai sobre as juventudes partidárias, porém até aí assistimos episódios menos felizes que derrubam o status de herdeiros, continuadores e inovadores, do legado deixado pelos homens e mulheres que fundaram a democracia.

Não é possível querer escapar ao estigmatismo, não ser confundido com uma pessoa dependente de “tachos”, ou “farinha do mesmo saco”, por fazer parte de uma organização política, se continuamos a transmitir para fora que compactuamos com as velhas práticas da dissimulação e mentira que tanto danifica a credibilidade.

Não sou um niilista do Apocalipse e, portanto, mantenho a esperança que as juventudes partidárias têm um grande potencial de mudança na forma de fazer política. Vejo exemplos em Portugal e em todo o mundo, que elevam a política para o sentido mais nobre da palavra, colocando-a novamente junto dos próprios fundamentos da ética.

Vivemos no momento mais propício para a mudança. O mundo hoje precisa de mais jovens com a coragem daqueles que fizeram frente a opressão no passado. Basta-nos apenas uma reflexão sobre que geração somos hoje e que causas podemos ser apontados como os grandes protagonistas no futuro. Só depende da coragem de quem participa.

 

Filipe Damasceno